Caros Milicos
É compreensível que vocês por muito tempo tenham se achado a última bolacha do pacote, a reserva moral da Nação, os únicos capazes de salvarem a Pátria do Comunismo, da Pouca-Vergonhice e da MC Pipokinha. Desde 2013, senão antes, tem muita gente implorando para que vocês venham quais uns Clark Kents verde-olivas salvar a Família Brasileira da Venezuelização certa, derradeira e irreversível. É difícil evitar que toda essa adulação suba à cabeça. Eu entendo. Boliram muito com os granadeiros.
Mas nos últimos meses nós, e vocês também, descobrimos que o seu fã-clube é um caso para a psiquiatria. Trata-se de gente que <b>pratica windsurf em caminhão</b>, reza para pneu, pede ajuda para alienígenas e acredita em qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, desde que a história tenha os termos “Deus”, “comunismo”, “marxismo cultural”, “descondenado”, “voto impresso” ou “especial de Natal do Porta dos Fundos”. Acho que essa constatação trouxe alguns de vocês de volta à Terra. É como se um dia eu descobrisse que a minha namorada acha o Cigano Igor maravilhoso. Eu começaria a questionar não só o discernimento dela, mas também o que ela viu em mim.
O fato é que vocês caíram no canto de sereia desse povo (nesse caso as sereias eram uns tenentes-coronéis reformados, encarquilhados em suas sungas ao sol de uma rede de vôlei no Leme) e, convenhamos, não trouxeram os melhores entre vocês para a empreitada.
Começou com a candidatura do Fujão de Orlando, um tenente (tenente sim, que saiu tocado daí por ter planejado explodir umas bombas para aumentar o salário dele e foi promovido a capitão da porta para fora, por razões que quem sabe um dia vocês percam a vergonha de explicar). Para vice do elemento botaram um general que foi escolhido por ser tão chucro que seria, nas palavras de vocês mesmos, a “apólice de seguro”, pois ninguém correria o risco de tirar o titular para ficar com o vice. Se o candidato já tinha aquela índole de babuíno, o vice seria o Diabo da Tasmânia mascote da campanha.
Ganharam e o que se seguiu foi aquilo lá que todo mundo já sabe. Vieram milhares de vocês para colaborar com a faina (para usar um termo de que vocês gostam). Agora estamos vendo os resultados. Mas destaquemos mais dois de vocês, ambos generais: o primeiro, a eminência parda, tendo iniciado a sua carreira carregando mala para o também general Sylvio Frota, aquele que achava que o Geisel era de esquerda. Esse Rasputin castrense na sua sabedoria resolveu, junto com o Gal. Diabo da Tasmânia, liberar geral para o garimpo nas terras Yanomamis. Para esses dois, o problema na Amazônia não são as forças guerrilheiras e paramilitares, o tráfico de drogas, o garimpo, a pesca ou o desmatamento ilegais. Não, nada disso. Problemão mesmo são as ONGs, que aliás inventaram os Yanomamis, que na verdade nem existem.
O outro veio anunciado como um Gênio da Logística que iria resolver a epidemia da COVID. Acabou gerenciando uma mortandade medieval em Manaus onde o seu foco foi, nas suas próprias palavras, “arrumar sacos pretos” para colocar os cadáveres. Isso sem contar as outras centenas de milhares de mortos no resto do país durante a sua “administração”.
Pois é. Tá dando para entender como fica a credibilidade de vocês na foto com esse pessoal? Isso sem falar da entrada de vocês no mercado de camping, o que não é exatamente parte das suas atribuições originais. Isso prejudicou um pouco o trabalho, afinal vocês estavam tão ocupados vendo se a caixa d’água do pessoal das barracas não estava vazia que se esqueceram de tomar conta dos palácios lá, e então houve aquela coisa desagradável, né?
Aí ficou meio chato.
Some-se a isso a FAB (Força Aérea da Biqueira) trazendo energia e disposição prá galera da bagunça lá na Espanha e a nossa gloriosa Marinha com seu porta-aviões vagando a esmo pelo Atlântico, o qual aliás deveria ser rebatizado de Sífilis, Daniel Alves ou coisa do gênero pois todos querem distância dele, e vocês podem ver que temos um problema de reposicionamento de marca diante de nós. E para alívio de todos nós, passemos ao largo das compras de Viagra e próteses penianas que vocês fizeram no atacadão; aí já descambaríamos para o humor mais raso do fundão da quinta série, o que seria complexo demais para os Camisas Amarelas do seu fã-clube. É muito vexame em pouco tempo. Olhem para Adriano Imperador, Belo, Nego do Borel. Até eles estão mais quietos que vocês ultimamente. Mirem-se no exemplo deles.
Eu tenho parentes que serviram e servem com vocês. Nem todos eles tem saudades da época em que alguns de vocês sequestravam, torturavam e matavam quem discordava de vocês. Alguns deles são competentes e fizeram ou fazem seu trabalho bem e com orgulho. Mas desconfio que não sejam a maioria. Por isso, dada a experiência dos últimos anos, que tal voltarmos ao básico por uns tempos? Vamos focar no que vocês fazem bem: marchar, fazer flexão e pintar tronco de árvore de branco pela metade. Vamos fazendo isso por uns dois, três anos; não havendo reclamações, damos um pouco mais de responsabilidade: um helicóptero para pegar uns traficantes na fronteira, uma fragata para combater a pesca ilegal nas águas territoriais; a gente vai vendo aí.
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